Enquanto há CARTA ainda há esperança!
Quando eu tinha 10 anos, por meio de um projeto social na escola, conheci um casal de educadores muito querido. Se chamavam Martha e Ricardo. Eu e Martha nos tornamos amissíssimos. Ela era muito doce, gentil, carinhosa. Não tinha idade pra ser minha mãe, mas cuidava de mim como tal. E eu adorava! Martha morava em Niterói (digo morava, pois há 15 anos não nos falamos.). Morar em Niterói pra mim era como alguém que vive em Santa Catarina, não conseguia conceber o quanto era próximo. Rsrs... Eles ficaram durante 02 meses aplicando o projeto na minha escola. Me lembro ao final que chegamos a apresentar uma peça de teatro sobre o "Estatuto da Criança e do Adolescente". Acho que daí é que veio a minha militância na área dos Direitos Humanos. Ao nos despedirmos eu e Martha trocamos endereços e ela prometeu escrever pra mim. 15 dias depois, chegou em minha residência a primeira carta. Me senti super importante! Um carteiro veio até a porta da minha casa trazer uma carta pra mim! Como aquela mulher tão ocupada com tantos afazeres, com uma filha de 05 anos, com toda uma vida agitada parou para escrever pra mim uma correspondência? E a carta? Ah a carta! Tinha ternura, muita ternura! E assim por 03 ou 04 anos trocamos cartas. Escrevemos sobre sentimentos, sobre o nosso desejo de felicidade mútua, sobre a alegria, sobre a tristeza, sobre o futuro, sobre o presente. SOBRE A VIDA!
O ritual de escrever uma carta está ligado ao cuidado. Desde a escolha da caneta e do papel até colar o envelope e por o selo. Infelizmente, hoje as informações se antecipam aos carteiros e chegam on line. Tocar na carta é um pouco como tocar no sentimento, mesmo que ele seja abstrato, tal como é. Penso que seja como provar um vinho, um bom vinho branco. Onde se pode sentir pelo paladar todo processo desde a parreira, passando pela fermentação, sua disposição na adega até chegar a taça. Alguns amigos diriam que este vinho não pode ser brasileiro. E eu concordo! Rsrsrs...
Por mais interessante e importante que seja trocar e-mails, sms e outros, eu ainda acho que nas relações pessoais com amigos, namorados e outros deveríamos escrever cartas. As cartas que depois de um tempo não precisamos jogar fora, pois não enchem a nossa caixa de entrada. As cartas que podemos tocar, sentir cheiro, e nos sentir acariciados por elas. Muitos me acharão muito "retrô" por isso. Mas não tenho menor problema de dizer o quanto adoro as cartas e o quanto adoraria pedir o endereço dos meus amigos ao invés de seus e-mails e nomes no facebook!